segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A Moça

A boba olha-se demoradamente no espelho. Amarra as tranças do cabelo com laço de seda, atrapalha-se no meio das bonecas de pano jogadas pelos cantos da sala. Murmura palavras de língua irreconhecível, dá as costas às cenas de sexo no horário nobre da TV. Lava-se toda, cospe no chão. Antes da meia-noite, despe-se do  manto, azul de Nossa Senhora. Sobre bordados e sedas... De olhos fechados e braços abertos, espera o voo da manhã.

A morte de Klungo


O meu amor morreu à míngua. Não conhecia o mundo do lado de cá da América do Sul. Chamava-se Klungo. Veio do Congo para São Paulo no final do século XX. Distraído, olhava vitrines e edifícios; foi atropelado por uma motocicleta que passava na avenida São João.