sexta-feira, 20 de março de 2015


O Réveillon de Denise


Denise tomou um banho de sal grosso ao amanhecer. Vaidosa, ficou horas a pensar no look. Esperava parentes vindos do subúrbio. Vestiu um short de linho branco e top verde perereca. Colocou no tornozelo, uma corrente de prata e uma imagem de São Jorge. Embora amigas aconselhassem usá-la no pescoço. Assim teria mais efeito a espada do santo.

A tarde de Ipanema estava um inferno. O termômetro  marcava 34°C. Comprou para ceia, produtos da China e do Paraguai. Na feira de São Cristóvão, escolheu sandálias para o namorado Americano.

No apartamento esticou-se no sofá. Num breve cochilo, sonhou com Yemanjá de cabelos ondulados e brincos de argolas. Assustada, levantou-se para abrir as janelas. Sentia saudade das viagens pela com o namorado capitão da Marinha americana. Sonhava sempre no mar e esforçava-se para reconhecer as bandeiras dos países que visitava.

"São da África?" - Dirigia-se a tripulação com as palavras presas no dentes.
Tambores batucavam um som semelhante ao jazz. Cansada, ouvia as  no convés:

"Quero aprender dançar funk e samba nas baladas das favelas".

Os fogos de artifício despertaram lembranças da adolescência. Pensou na sua alma gêmea, o Peter Black. Denise pulou sete ondas, como se fossem a representação dos sete amores que lhe arrastaram pelo mundo. Num domingo de março, o mar devolveu as flores e os frascos de perfumes baratos. Os pés de nuvens desfilavam na areia. O rosto  estava mais leve. Os pensamentos confusos e o desejo de perdoar as cantadas do porteiro.

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